Como nos relacionamos com a leitura e com a escrita? De quem somos mais próximos?
Sem medo de errar, afirmo que o livro e eu somos grandes amigos. Gosto de ler! Já eu e a escrita trocamos apenas cumprimentos formais, acenos breves, não somos íntimas. Há um respeitoso distanciamento. Admiro quem escreve, não, na verdade invejo quem escreve.
Desconfio que minha resistência à escrita nasceu na escola, tantas regras, tantos erros, tantos rascunhos e a impiedosa caneta vermelha da professora. Acabo de lembrar de um poema do Drumond:
Aula de português
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.
A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?
na superfície estrelada de letras,
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.
Penso que Drumond achou o 'X' da questão, a escrita deve ficar sempre em contato com a "superfície estrelada das letras" sem se deixar aprisionar pelas garras das regras, só assim não perde seu encantamento. Cá entre nós, Drumond sabia das coisas.
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