sexta-feira, 25 de abril de 2014

A Terra Pulsa




Crédito: Courtesy of John Nelson/IDV Solutions


Não percebemos o quanto a humanidade está interligada, apesar das diferenças de religião, cultura e línguas dos povos. Somos, de fato, um único e grande organismo vivo. Na agitação cotidiana é difícil parar e perceber o outro, ou melhor, os outros. Caminhamos para um entorpecimento, como se nossa humanidade estivesse se perdendo aos poucos e não nos damos conta disso. Estamos nos fechando em nós mesmos, ficando rudes, duros, secos.
A simplicidade parece que não existe mais. Sempre estamos atrás de algo, da próxima conquista que finalmente trará satisfação, e assim a vida passa...
Nosso  modo de viver está cada vez mais mecânico, como em uma linha de produção. Será que estamos nos perdendo em meio a nossa pretensa modernidade? Como perceber a nossa vida na Terra, como cuidar deste planeta tão forte e ainda assim frágil?
É preciso compreender a diversidade que nos une, a ligação humana com a Terra, a vida que pulsa em nosso planeta. Precisamos desacelerar e apreciar o que temos de mais importante: a natureza e as pessoas.
O Profeta Gentileza denunciava o mundo, regido "pelo capeta capital que vende tudo e destrói tudo". Via no circo destruído em um incêndio em Niterói uma metáfora do circo-mundo que também será destruído. Mas anunciava a "gentileza que é o remédio para todos os males". Um refrão sempre voltava especialmente nas 56 pilastras com inscrições na entrada da rodoviária Novo Rio no caju: "gentileza gera gentileza". Convidava a todos a serem gentis e agradecidos. Quem aceita o convite?




No Museu Virtual Gentileza você encontra a história do Profeta Gentileza e sua peregrinação pelas ruas do Rio e Niterói, além das imagens das pilastras com suas palavras.











sexta-feira, 11 de abril de 2014

Dedicatórias


Recentemente, conheci o site "Eu te dedico" que é muito legal, a idealizadora do site é  a Mariana Guglielmelli. A ideia é simples mas o resultado é delicado e emocionante. A pessoa envia a imagem da capa do livro, da dedicatória e, se quiser, a história da dedicatória  para a Mariana publicar, só isso. É fácil se deixar levar em meio a tantos relatos legais, que em sua singeleza encantam. O teor da dedicatória, o carinho que ela contém e como faz de um livro um presente ainda mais especial é sempre impressionante. Abaixo alguns exemplos retirados do site:







E para fechar um história  de um livro e sua dedicatória especial que retornaram ao ponto de origem. A matéria completa pode ser lida  na página do jornal O Globo.





RIO - Era uma noite de terça-feira insuspeita em Copacabana. No fim daquele dia, 23 de outubro, um grupo de frequentadores do sebo Baratos da Ribeiro faria exatamente o que faz há cinco anos: se espremeria entre as prateleiras abarrotadas da livraria para mais um encontro do Clube da Leitura, evento quinzenal em que leem trechos de livros e trocam impressões sobre contos próprios. Quando chegou a sua vez na roda, o dono do sebo e fundador do clube, Maurício Gouveia, tirou da gaveta um livro que guardava há dez anos escondido no acervo: um exemplar em italiano de “Nove contos”, do escritor americano J.D. Salinger.
Não tinha coragem de vendê-lo. Com as bordas amareladas e as páginas carcomidas, aquele “Nove racconti” guardava uma dedicatória em português na página de rosto que Maurício considerava mais bonita do que todo o livro do autor do clássico “O apanhador no campo de centeio”. Um homem comum — que poderia ser um médico, um vendedor de sapatos ou um trapezista de circo — declarava seu amor a uma mulher, em Milão, em 26 de dezembro de 1966. Maurício leu a dedicatória enorme, que começava com a frase “De tudo que vem de você, permanece em mim uma vontade de sorrir” e se encerrava com a oração “a vida é um contínuo chegar de esperanças”. Ao final, subiu o tom para ler o nome do santo: Sylvio Massa de Campos.
Foi quando um dos frequentadores do clube soltou um “opa!”. O jornalista George Patiño conhecia a família Massa, da qual Sylvio era o patriarca. Ele não vendia sapatos, trabalhava em circo ou morava em Milão: o matemático e escritor Sylvio Massa de Campos estava vivo, trabalhara a vida toda na Petrobras, tinha 74 anos e morava logo ali, no Leblon.
— Tem certeza? — perguntou Maurício.
— Trago ele aqui no próximo encontro — prometeu George.
Feito. No dia 6 de novembro, um senhor de cabelos brancos, sorriso fácil e porte altivo entrou no sebo acompanhado de duas filhas e três netos. Emocionado, recebeu das mãos de Maurício o livro perdido. Releu a dedicatória em voz alta, com pausas longas entre uma frase e outra, o que só aumentava o suspense na livraria, entrecortado pelo ruído dos netos inquietos. Depois de ser longamente aplaudido, contou aos novos colegas a história por trás daquela mensagem.
Em 1966, ele fazia mestrado em Matemática em Milão com uma bolsa do governo brasileiro. Lá, conheceu uma italianinha de nome Febea, que tinha concluído os estudos em Literatura em Londres, e acabava de retonar à Itália. Quando ela comentou que conhecia José Lins do Rego e João Cabral de Melo Neto, e que adoraria aprender português para ler Guimarães Rosa, Sylvio se apaixonou na hora: apesar de trabalhar com algoritmos, era na literatura que descansava seus teoremas. Prestes a terminar a pós-graduação, no entanto, logo voltaria ao Brasil. O amor foi construído à distância.
— Nosso namoro durou um ano, 136 cartas, nove livros, dois telegramas e um telefonema — contou Sylvio, para suspiro coletivo da plateia, e espanto das filhas, que não conheciam todos aqueles números. — Naquele tempo, dar um telefonema era uma fortuna. Esta dedicatória escrevi no dia do meu aniversário, já doido por ela. Eu nem sei como perdi o livro, acho que foi numa mudança nos anos 80.
Um ano depois, Febea veio morar no Brasil, e Sylvio montou um apartamento no Méier para ela. Tiveram duas filhas, Isabella e Gabriella — que a essa altura se debulhavam em lágrimas na livraria —, e viveram felizes para sempre. Até que um câncer levou Febea aos 41 anos de idade. Sylvio nunca mais se casou.
— A arte de viver é a arte de acreditar em milagres, disse o poeta italiano Cesare Pavese, e se hoje eu estou aqui é porque ele está certo. Febea foi a pessoa que eu amei mais profundamente em toda a minha vida. E ela está presente aqui, nessas cinco pessoas que fizemos, nossas duas filhas e três netos. Esse é o milagre — declarou Sylvio, lembrando, ao final, uma frase que ouvira do neto quando ele tinha 4 anos, e que levava como mantra de vida: “Vovô, nada é grave.”

A dedicatória completa é essa:

Cara Febea,

“Per ottenere amore tragico ci vuole astuzia. Ma sono appunto gli imcapace de astuzia che hanno sete di amore trágico.”“Cesare Pavese 23/febbrairo de 1938. “Il mestiere di vivere.”

"De tudo que vem de você, permanece em mim uma vontade de sorrir. De todos os seus sorrisos, permanece em mim a sua tristeza. De todos os seus enganos, guardo o seu desejo de acertar. De todos os seus acertos, imagino a indiferença dos outros em não reconhecê-los. Imagino também a incapacidade deles para julgar o engano e elogiar o acerto. Nem num nem outro é  passível de julgamento. Você é que percebe o que reflete nos olhos dos outros! Quando enganas, sei que queres buscar a verdade. Para mim isso é suficiente.  Quando dizes  a verdade, não lhe creem  É o preço que o mundo oferece.  Me sinto capaz de distingui-los em silêncio. Quando  encontrar o desespero, pensas na tua tristeza, nos teus enganos, na indiferença dos outros, nas  mentiras do mundo, nas verdades buscadas. Corres o perigo de viver neste círculo desumano, para concluir que, talvez, nada vale a pena. É preciso que tu olhes que os sãos de corpo e espírito amam para depois errar e se desesperar mais tarde, porque se recordam que um dia foram puros de espírito.Daqueles que já erraram e voltam a receber, um dia, a luz do sol, ou uma gota de chuva, não têm mais medo do erro, nem a recordação de um dia havê-los cometido. O mundo pode agora surgir com sua bela singeleza. As flores têm agora o perfume original de sua castidade. A vida é um contínuo chegar de esperanças."


Encontrei  essa linda história, inicialmente AQUI



sábado, 5 de abril de 2014

A Palavra-Pedra e o Lago






A palavra-pedra 'salário' foi lançada  no lago subterrâneo do imaginário.  Lá ela quicou, movimentou a água tranquila, afugentou os peixes, molhou e espirrou, tocou em uma folha que boiava e por fim afundou. Lá do fundo ecoou:


$AL
                  ÁRIO
começa, termina, começa
$AL
                             OPERÁRIO
para quê? para ter, para ter
$AL 
                        HORÁRIO
 até quando? até quando?
$AL
                      ETÁRIO
nascer, crescer, viver
$AL
                                 MONETÁRIO
pagar, vender, comprar
$OLITÁRIO?

Subvertendo as Regras





Por que tudo sempre igual no mundo da escrita? Tudo sempre  do mesmo jeito. É tão difícil mudar e ser mais flexível!  Por que não posso usar todas as minhas ideias? Onde está determinado que eu não posso errar? Quando o humor e a imaginação foram banidos?Quem convidou o policial feroz da autocrítica?
Tenho direito de plantar minhas abobrinhas pelo texto. Não sou obrigada a escrever. Escrevo do meu jeito, no meu tempo e o quanto quero. Não julgo o texto de ninguém, e gostaria de ser tratada da mesma forma.

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
                                                             Escrevo porque preciso,
               preciso porque estou tonto.
     Ninguém tem nada com isso.
             Escrevo porque amanhece,
                                                             e as estrelas lá no céu
           lembram letras no papel,
      quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
        O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
                                                             Tem que ter por quê?
                                                                                                          Paulo Leminsky


Há um lugar onde as regras são constantemente quebradas, mas o caos não se instala, as pessoas são felizes e a fantasia viceja. É possível subverter regras e ser criativo sem culpa, comendo uma  de marmelada de banana, ou se preferir uma goiabada de marmelo. O desafio está lançado!